As feiras livres já sentem reflexos do aumento na oferta de produtos destinados ao mercado interno. Frutas que vinham registrando alta nos preços, como a manga, passaram a apresentar queda. Mas até que ponto essa redução está, de fato, ligada ao tarifaço de 50% para os produtos brasileiros imposto por Donald Trump desde quarta-feira (dia 6)
Para o feirante Jefferson Batista, de 39 anos, a tarifa é a principal responsável pela queda nos preços. Ele afirma que as maiores baixas têm sido observadas na uva e na manga.
— A uva, que há três semanas eu comprava por cerca de R$ 60 a caixa, comprei por R$ 35 na semana passada — conta, em feira livre no Flamengo, no Rio. — A gente até está acostumado com alguma queda nesta época de frio, mas não pode ser só por causa da safra. É a tarifa do Trump também.
Segundo Batista, a bandeja de uvas que ele vendia a R$ 12 na semana passada passou para R$ 7 nesta semana. Ainda assim, para o feirante, a manga é a campeã na redução de preços.
— A manga palmer, que é a com pouca fibra, estava mais cara no começo do mês passado, mas o preço despencou na última semana. Uma caixa com 30 mangas, que eu comprava por R$ 100, esta semana paguei R$ 50.
Efeito de supersafra-Próximo à barraca de Batista, o feirante Washington Lima, de 50 anos, vendia três mangas por R$ 10. Segundo ele, o valor está bem abaixo do que cobrava anteriormente:
— Na semana passada, eu vendia uma manga por R$ 10, e sobrava muita fruta. Agora que ficou mais barato, consegui fazer essa promoção. Tá vendendo igual água — relata, bem-humorado. — Quase agradeci ao Trump.
Mas, para Lima, a redução nos preços ainda não foi plenamente percebida pelos consumidores.
Apesar da percepção dos feirantes, ainda é precipitado atribuir ao tarifaço a principal responsabilidade pela queda nos preços, destaca o coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, André Braz. Ele explica que há outros fatores que podem estar influenciando o movimento:
— Alguns itens que entraram no tarifaço já estavam ficando mais baratos. A uva, por exemplo, vinha registrando queda desde o início de julho, com variação negativa de 3,8%. No fim do mês, essa redução chegou a 5,5%.
O economista explica que a uva, cuja safra entre abril e agosto é concentrada no Vale do São Francisco (BA/PE), está em supersafra, com o pico previsto para este mês.
— Esse fator já influencia bastante na queda de preço, porque aumenta a oferta e o preço tende a cair — afirma. — Mas é uma queda que já vinha sendo sentida antes mesmo do anúncio das tarifas, em julho.
Comportamento diferente-Já o preço da manga, outra fruta com forte presença nas exportações brasileiras para os EUA, apresentou comportamento diferente, diz Braz. Começou o mês em alta e terminou em queda. O economista atribui isso à reação do mercado após o anúncio da tarifa total de 50%, feito em 9 de julho:
— Ela estava com alta de 15% no início de julho. Depois do dia 9, os preços começaram a desacelerar fortemente, fazendo com que a manga encerrasse o mês com uma queda de 7,2%.
Essa transição de uma tendência de alta para uma de queda é, segundo Braz, exemplo de comportamento de preços que pode estar mais relacionado ao tarifaço.
— Quando o produto está na safra, como é o caso da manga e da uva, é difícil afirmar que a queda de preço se deve exclusivamente ao tarifaço. Acredito que as duas coisas estejam acontecendo, mas não há como medir com precisão o peso de cada uma.redegn com informações Globo
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